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Principais cuidados com recem nascidos órfãos

Escrito por Silvia Schultz - Médica Veterinária - CRMV - RS 12750.

Encontrei filhotes recém nascidos! E agora, o que fazer?

Não é incomum surgirem perguntas de pessoas que encontram filhotinhos abandonados por aí, sobre os principais cuidados que se deve ter com esses animais. As dúvidas sobre o que fazer são inúmeras, principalmente se os filhotes forem recém-nascidos e estiverem sem a presença da mãe. Nessas horas a primeira coisa a fazer é não entrar em pânico e seguir as dicas que vamos passar, para que os bebezinhos tenham chance de sobreviverem e crescerem com saúde!

Antes de mais nada tenha em mente que você terá de fazer o papel de mãe destes filhotes. Sim, você precisará de tempo e paciência, terá de alimentá-los, aquecê-los e estimulá-los a fazer suas necessidades. Sem a presença da mãe, os recém nascidos necessitarão de cuidados especiais, do contrário dificilmente conseguirão sobreviver.

A primeira coisa a se fazer é passar os filhotes por uma avaliação veterinária, de preferência ainda antes de levá-los para casa. Lembre-se que são animais que nasceram na rua, ou se não nasceram, foram colocados lá com poucas horas de vida. Portanto estão suscetíveis à uma série de doenças e complicações, além de representarem um risco em potencial aos animais já existentes em casa. Se não for possível levá-los imediatamente no veterinário, leve-os para casa, mantendo uma distância segura dos outros animais, por exemplo, em um quartinho ou cômodo separado e providencia uma visita ao veterinário o quanto antes.

Já chegaram em casa? O próximo passo então é providenciar um local confortável e aquecido para os filhotes. Recém nascidos perdem temperatura com muita facilidade, e isso pode levá-los a morte rapidamente. Arrume uma caixinha com panos limpos e macios e certifique-se de que eles estão bem aquecidos. Se houver necessidade, aqueça um pouco de água e coloque em uma luva de procedimento ou até mesmo em uma garrafa pet bem fechada. Mas atenção! Cuide para não queimar os pequenos, a água deverá estar quente o suficiente para mante-los aquecidos, mas não tão quente a ponto de queimá-los. Coloque os paninhos por cima da garrafa com água e acomode os filhotinhos sobre ela.

A caixa dos filhotes deverá ficar em um local tranqüilo, com pouca luminosidade e livre de correntes de ar em excesso. Evite a presença de muitas pessoas manipulando os bebês, isso pode estressá-los. Deixe-os quietos e tranqüilos, mas não totalmente sós, sempre deve ter alguém os observando para evitar intercorrências ou acidentes. É normal eles dormirem a maior parte do tempo, acordando apenas para serem alimentados e fazerem as necessidades.

O período mais crítico é primeiro mês de vida. Eles perdem o cordão umbilical por volta do terceiro dia de vida, abrem os olhos entre dez dias a duas semanas, ganham os primeiros dentinhos em 30 a 40 dias. Precisam ser alimentados a cada duas horas na primeira semana de vida, caindo para três horas nas duas semanas seguintes e quatro na quarta semana.

Por falar em alimentação, este é um ponto chave de todo o processo. Você precisará alimentá-los com um suscedâneo (leite que se assemelha nutricionalmente ao leite materno). Nunca ofereça leite puro, os filhotes podem ter muita cólica e diarréia. Existem fórmulas prontas de leite materno artificial para cães e gatos que podem ser adquiridas em pet shops. Caso você opte por fornecer a fórmula caseira, temos aqui uma sugestão de receita:

Ingredientes CÃES - Quantidade GATOS - Quantidade
Gema de ovo 25 gramas (1 gema) 25 gramas (1 gema)
Leite integral 150ml 150ml
Creme de leite 20 g (1 colher de sopa) 20 g (1 colher de sopa)
Ração para gatos em crescimento (moída e peneirada) - 25 g (fonte taurina e araquidônico)
Água 25 ml 25 ml
Suplemento mineral vitamínico para cães em crescimento 2 gramas -
Suplemento mineral vitamínico para gatos em crescimento - 2 gramas
Calcário calcítico 1,5 gramas 1,5 gramas

(Fonte: Saad 2004)

Alguns cuidados com o fornecimento da alimentação devem ser tomados. Utilize uma seringa sem agulha ou uma mamadeira pequena, daquelas de bebê recém nascido. Aqueça o leite a 37ºC e ofereça devagar, para que o filhote se acostume e se sinta estimulado a mamar. Tenha paciência e segure-o com a barriguinha para baixo e a cabecinha elevada, a fim de não fazer falsa via. Jamais o alimente segurando-o com a barriguinha para cima, ele pode se afogar. Ofereça de duas em duas horas, no máximo três em três.

Após alimentá-lo você precisará estimular a urina e defecação. Normalmente a mãe lambe suas crias a fim de promover esta estimulação. Como a mãe não esta por perto, caberá a você usar um algodão umidecido com água morna e passar nas genitais dos pequenos, para que eles consigam urinar e defecar. Aproveite também para limpar resíduos de leite e não se esqueça de manter a caixinha deles sempre bem limpa, trocando os panos e papéis sujos quando necessário.

Fique sempre atento à sinais de desidratação, hipotermia, choro excessivo, gemidos ou apatia, vômitos, respiração difícil, filhotes que não ganham peso ou que não conseguem mamar, urinar ou defecar. Diante de qualquer um destes problemas, procure o veterinário sem demora.

Com 3 a 4 semanas de vida os filhotes já estarão mamando apenas duas vezes por dia, e você pode iniciar o processo de desmame utilizando um suplemento alimentar. Geralmente não é difícil e os pequenos gostam de experimentar novos sabores. Para os cães, este suplemento deve ser uma papa espessa de cereais, que se prepara misturando uma pequena quantidade de água quente com o alimento da mãe (ração). O leite da vaca não deve ser utilizado para a confecção dessa mistura, por causa do conteúdo muito mais elevado em lactose do que o da cadela, podendo assim, produzir a diarréia. Pode-se fazer uma papa semelhante para os gatos, utilizando água ou leite. Ao contrário dos cães, os gatos são capazes de tolerar o conteúdo de lactose do leite da vaca e, muitas vezes, consumirão com gosto a mistura de leite de vaca com alimento para gatos (Case et al. 1998 citado por Saad 2004). Ofereça em um pratinho raso, em pouca quantidade, 5 a 6 vezes por dia e observe se haverá uma boa aceitação.

Ao princípio, consumirão pouca quantidade e a sua principal fonte de alimento continuará a ser o leite. Não obstante, às cinco semanas de idade, os filhotes já deverão estar consumindo alimento semi-sólido. Os dentes de leite aparecem entre o 21º e 35º dia, após o nascimento. As cinco ou seis semanas de idade, os filhotes de cães e gatos são já capazes de mastigar e consumir alimentos secos. O desmame, normalmente, completa-se às seis semanas. O desmame completo não acontece até que os filhotes tenham pelo menos, sete a oito semanas de idade (Case et al. 1998 citado por Saad 2004).

No caso de filhotes de gatos, por volta da terceira semana, você poderá introduzir a caixinha de areia. Pegue uma bandeja baixa e pequena e coloque um pouco de areia sanitária. Para facilitar, pode colocar um pouquinho das fezes deles, isso irá estimulá-los a fazer as necessidades ali. Com cães é um pouco mais difícil, mas você já pode começar a ensiná-los a usar o jornalzinho, colocando o cãozinho sobre o papel assim que notar que ele está pronto para urinar ou defecar.

Tomando todos estes cuidados e seguindo as nossas dicas, seus resgatados crescerão fortes e com muita saúde. Agora é hora de começar a pensar em novos donos, lares responsáveis que cuidarão deles com amor e muito carinho. Ainda não sabe como fazer isso? Veja as nossas dicas sobre doação responsável de animais AQUI.
Boa sorte!

Material Consultado:
SAAD, F. M. O. B., MENDES, W. S., AGOSTINI, L. O. , et al Manejo nutricional de cães e gatos nas diversas etapas fisiológicas / Flávia Maria de Oliveira Borges Saad. – Lavras: UFLA/FAEPE, 2004. 98 p.: il. – (Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” (Especialização) a Distância Nutrição e Alimentação de Cães e Gatos).


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